quinta-feira, 19 de março de 2015

Umas Tiras da Pesada


Desde que me conheço por gente, sou fanático por tirinhas. Nutro mais apreço pelas "a primeira faz tchan, a segunda faz tchun e a terceira fecha à chave de ouro". Criatividade e Síntese; Tercetos Piadas desenhados.

De Mafalda à Rê Bordosa sem deixar de passar por Calvin e Níquel Náusea dando um alô ao Snoopy e Geraldão.

Neste contexto, apresento alguns cartunistas que conheci na Net - devidamente favoritados.













quarta-feira, 11 de março de 2015

Útero e algoz


Costurei um vudu 
à sua imagem e semelhança 
(para uso caseiro) 
com a agulha 
(útero e algoz) 
que encontrei no palheiro 

Por um erro de cálculo 
saíste melhor e a encomenda 
de uma multinacional 
não tardou a chegar 

O meu, sucesso de vendas 
em toda a América Latina, 
há de ter 
concorrente à altura.

Tadeu Sarmento


"Para mim, calçar os sapatos da mulher que se ama é a imagem do próprio amor. Tem aquele filme baseado no Factótum do Bukowski. Lá pelo final, Lili Taylor acompanha Matt Dillon até a empresa da qual ele foi rapidamente demitido, para buscar um cheque pelo único dia trabalhado. Ela se veste a caráter para ir: com vestido de passeio puído e saltos altos que machucam seus pés. Ambos caminham conversando sobre o que farão com o dinheiro: comerão, comprarão bebida, serão felizes, terão seu dia de rei e rainha em meio à miséria e ao desespero. Mas só que o cheque não está lá. O cheque, senhores, nunca estará lá. Então eles voltam, cabisbaixos e vencidos e, quatro passos adiante, ela reclama dos sapatos machucando seus tornozelos. Então ele a senta no degrau de uma escada, descalça-a, para depois calçá-la com seus sapatos de gigante. E vão embora: ele apenas de meias e ela, calçando um par de sapatos dez números acima do seu, lembra uma bailarina de caixinha de música desengonçada como um palhaço entortado. Essa é a imagem do amor: um gesto súbito de delicadeza em meio a um deserto de sofrimento. Um gesto apenas, um clarão dentro do qual lembramos que, talvez, sejamos um pouco mais que animais com enfeites natalinos no cérebro. Mas logo o clarão passa, o amor acaba, e caminhamos de mãos dadas pelo dia desesperançado. Esse é o filme de nossas vidas, com o agravante de que todos os figurantes morrem antes do final feliz. Mas sempre haverá sapatos. Sempre" - Tadeu S.


Imagem: Vladimir Kush : The Fashionable Bridge


sábado, 7 de março de 2015

Ari Marinho Bueno

Do livro "Vacas no céu do interior" by Ari Marinho Bueno



( Vívidas )

Na roça minha mãe enxugava o suor
do rosto com as palmas das mãos.
Diz que era pra não criar calos,
a pele sempre fina e macia.
Mas era pra não machucar os filhos.

Meu pai fez sapatos durante anos.
Não foi seu pai
o mestre no ofício das solas.
Ensinaria aquilo que os filhos aprendessem,
aprenderia o que os filhos ensinassem.

W.Benjamin não fugiu de Hitler.
Suicidou um dia antes de liberarem
de novo a fronteira.
Brecht disse, quando soube, a primeira baixa
do Reich à cultura alemã.


quinta-feira, 5 de março de 2015

Tudo ao mesmo tempo agora


Tempo





   Memória é invenção de Memória


Em cada foto uma alucinação
Há beleza: o absurdo entregar-se a ela.
O bebê que fui viaja no vão -
não está na moldura que a pose amarela.



           

O aforismo 341 da Gaia Ciência - Friedrich Nietzsche


E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!” – Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!”.
Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"


 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Poemeus


    Splash


À luazinha da poça
a distração deu bandeira.
O Poeta auto-troça:
"_Armstrong fim de feira!".


                       Aspas




   O abacate


O abacate projeto. 
O abacate conceito. 

Ainda sem cor e forma. 

O abacate rascunho. 
Ainda sem sabor. 

Antes do primeiro abacateiro desse mundo. 

O abacate na cabeça de Deus: 
uma ideia a concretizar-se



De Rubor em Rubor


Dois longos dedos da Aurora
apagam a última estrela
do Céu que, Narciso ao Mar, cora -
de Rubor em Rubor... a Manhã escrevê-la.