quarta-feira, 29 de junho de 2016

Frederico Barbosa in Pior que a Morte para JC

-Frederico Barbosa-

[ Pior do que a morte
para JC ]
O pior é que dizem: rezou.
Ele que sempre foi contra,
do contra, ateu,
agora que zerou,
creu?
Ele que sabia que a vida é coisa
de sempre não.
Sem fórmulas fáceis,
nem saídas para a dor
de cabeça
de pensar
de ser sem crer.
Ele que sabia que não há aspirina
contra o bolor.
Logo dirão que se inspirou,
e compôs de improviso
um soneto vendido,
dos que sempre enfrentou.
Dirão ainda que se converteu
e defendeu a vida devota,
a pacificação bovina,
a prédica dos pastores.
( Verbo e verba:
pragas velhas. )
E que se arrependeu do pecado
de ser exato, claro e enjoado.
Vida, te escrevo merda.
Às vezes fezes, mas sempre merda.
Fingida flor, feliz cogumelo,
caga e mela.
Sempre severa e cega
merda.
Triste é depender
de relatos carolas,
acadêmicos, cartolas.
Triste é depender
da leitura alheia,
fáceis falácias: farsas.
Triste é depender
dos olhos dos outros,
de voz de falsas sereias.
Triste é não poder mais
se defender.
Mas
um aqui, João,
incerto, grita
e insiste em não crer
na sua crença repentina,
que a morte (sua) desminta a obra (sua) vida.
Um aqui, João,
o tem por certo:
é mais díficil o não
crer, não
ceder, não
descer, não
conceder. Não.
Não, não orou.
Frederico Barbosa
10/10/99


sexta-feira, 24 de junho de 2016

Sérgio Aragonés ( Mad Magazine)










Quartetos






Página no Face

Dentro da prancha do menino eu vou



Dentro da prancha do menino eu vou
correr atrás do meu destino
semana atrás um outro despencou
vendia Bis biscoito de polvilho

Dentro da prancha do menino eu vou
no balançar dos trilhos

Dentro da prancha do menino eu vou
ferrorama de quem não tinha
comida só peixe peixinho
caco-de-vidro para o fim da linha

Dentro da prancha do menino eu vou -
se ele ficar a prancha vai sozinha

Lugar reservado a quem arrisca:
é proibido não fumar no vagão da faísca
é proibido surfar mas ele nem liga
tira onda é o rei é o rei da barriga

Fosse o seu filho
tivesse outro pai
ou pelo menos um

que não se embriagasse
para fazer mansão
barraco de favela

Dentro da prancha do menino eu vou
tentar a sorte nessa vida
Para comer melhor, para beber melhor
para comer sem acabar comida

Dentro da prancha do menino eu vou:
entre a fé e a ferida

Dentro da prancha do menino eu vou
com a multidão sem rosto
São Silvas sim Silvas de quem
renomeia a gosto

Dentro da prancha do menino eu vou
comprar Mentex Chokito com troco

Para quando o guarda estiver
silêncio ao invés do Sufflair
lição ao invés do recreio
dentro da mochila: receio

Fosse a sua mãe
sem pai de sustentar
a mulher e os filhos

Que crescem crescerão
a Deus dará só
não se sabe o dia..

Dentro da prancha do menino eu vou



Dentro da prancha do menino eu vou
correr atrás do meu destino
semana atrás um outro despencou
vendia Bis biscoito de polvilho

Dentro da prancha do menino eu vou
no balançar dos trilhos

Dentro da prancha do menino eu vou
ferrorama de quem não tinha
comida só peixe peixinho
caco-de-vidro para o fim da linha

Dentro da prancha do menino eu vou -
se ele ficar a prancha vai sozinha

Lugar reservado a quem arrisca:
é proibido não fumar no vagão da faísca
é proibido surfar mas ele nem liga
tira onda é o rei é o rei da barriga

Fosse o seu filho
tivesse outro pai
ou pelo menos um

que não se embriagasse
para fazer mansão
barraco de favela

Dentro da prancha do menino eu vou
tentar a sorte nessa vida
Para comer melhor, para beber melhor
para comer sem acabar comida

Dentro da prancha do menino eu vou:
entre a fé e a ferida

Dentro da prancha do menino eu vou
com a multidão sem rosto
São Silvas sim Silvas de quem
renomeia a gosto

Dentro da prancha do menino eu vou
comprar Mentex Chokito com troco

Para quando o guarda estiver
silêncio ao invés do Sufflair
lição ao invés do recreio
dentro da mochila: receio

Fosse a sua mãe
sem pai de sustentar
a mulher e os filhos

Que crescem crescerão
a Deus dará só
não se sabe o dia..