quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Gélida Manhã

Encostado ao
muro da escola
o guri acende
na chama que o frio ejacula
o segundo cigarro invisível  
(ou reativa o primeiro,
quem sabe,
apagado pelo vento) 

Vem da fumaça ingênua
plantar  em seu
pálido  queixo
fios de barba e bigode

Tal feito o faz
motociclista...
a mais bela da terceira
série não... a professora,
a professora na garupa!

Gélida manhã : 
a censura materna se faz cinzeiro;
não obstante
convoca  o barbeiro
mais veloz do universo,
recolocando, assim e assim,
a professora no
apinhado coletivo.

Na distração materna,
fruto de um beija flor metálico
do canal sete,
reativa o filtro.

O termina.
Do piparote exato
uma guimba de três pontos.

Recebe um beijo político da mãe afobada.

Ultrapassa o portão
tateando o jeans
em busca dos fósforos.

A diretora, sem mostrar os dentes,
lhe sorri da cadeira de rodas.

Pedro (este será
seu nome) apaga a brasa
na pia do banheiro.

Tosse de gripe,
retosse, e
vangloria-se ao espelho.

O inverno lhe faz mal
muito mal
aos pulmões.